Há alguns anos estreava o fracassado "Um Príncipe em Nova Iorque 2" (2021), também estrelado por Eddie Murphy, o filme contou com a direção de Craig Brewer, foi produzido pela Paramount Pictures e distribuído pela Amazon Studios aqui em terras Tupiniquins. É possivel que este detalhe, o fato de que a continuação do clássico "Um Príncipe em Nova Iorque" se tornou necessariamente "esquecível" fez com que eu desse o "play" em "Um Tira da Pesada 4" com o pé atrás, preciso confessar... Mas, logo de cara fui muito surpreendido, me vi tomado por uma sensação maravilhosa de pura nostalgia, até a dublagem da Netflix contribuiu para trazer essa sensação, o tom do filme, a trilha sonora, as piadas, o roteiro... Em tudo, o filme muito positivamente emulava os anos 80 em sua melhor forma, estávamos de volta aos anos de outro do cinema e da cultura pop.
O filme traz de volta Axel Foley, que mais uma vez se vê preso em um caso difícil de resolver sozinho, mas impossível de deixar de lado. Desta vez, o que o leva a deixar Detroit se voltar para Beverly Hills é sua filha, que foi colocada no meio do fogo cruzado do crime do crime organizado. A sinopse nos mostra um Axel Foley mais maduro, mas ainda com aquela obstinação e gargalhada inconfundíveis.
Este quarto filme parece ter capturado a essência do primeiro, lançado em 1985, como se alguém a trancafiado num cofre com um bilhete "Não abra antes de 2024". Quando fazemos um paralelo com os filmes dois e três, esses são filmes que tinham a necessidade de continuar a jornada de Axel Foley, mas este quarto filme da saga, eles foram muito além, ele é uma verdadeira cápsula do tempo que avança a história, introduz um novo momento de vida ao protagonista, proporcionando um reviver para lá de revigorante.
Todos os elementos do filme original estão aqui, desde as cenas icônicas até a dublagem que remete aos estúdios antigos, com a qual a Netflix ainda se permite "brincar" dizendo "versão brasileira Netflix" um detalhe que não poderia passar desapercebido. Embora o filme se passe nos dias atuais, ele consegue fazer você sentir o que sentiu ao assistir ao primeiro "Um Tira da Pesada" nos anos 80, ao apertar o play em "Um Tira da Pesada 4" é quase como apertar um botão da nostalgia, que só acaba duas horas depois, quando o filme termina, com direito a cena pós-credito que é um verdadeiro fanservice.
Logo no começo o filme apresenta uma cidade de Detroit, com sua estética quase inalterada mesmo após 39 anos, o que ajuda a contribuir para essa sensação de que aqui, o tempo parou. Axel Foley, agora mais experiente, consegue se desvencilhar de situações complicadas com mais facilidade do que no filme original, quando Axel tinha apenas 22 anos.
O filme não se moderniza visualmente, mas a direção de Mark Molloy e o roteiro super bem produzido por Will Beall, conseguem criar momentos que, sozinhos, são tão interessantes quanto o filme como um todo. O Axel Foley e "Um Tira da Pesada" foram desenhados desse jeito por um motivo, Eddie Murphy vinha dos palcos de stand-up e contava piadas segmentadas por grandes arcos em seus shows, mas que mantinham uma linha narrativa muito especifica. O filme resgata tudo isso, criando cenas que são quase como esquetes, interligadas, mas com vida própria.
Logo na sequência inicial de "Um Tira da Pesada 4" resgata a pega de piadas autodepreciativas, que marcaram o trabalho de Eddie Murphy nos palcos de stand-up, traz de volta a sensação de que você não sabe se pode ou não rir, algo que Murphy sempre fez com maestria. O filme evita alguns clichês do passado, como ir para uma boate de striptease, mas mantém o bom humor e uma crítica social muito incisiva.
"Um Tira da Pesada 4" é como um VHS antigo, mas que agora damos play no streaming. Ele consegue emular toda essa sensação de revisitar o passado de uma forma autêntica. Ver Axel Foley usando o mesmo par de tênis, o mesmo tipo de jaqueta, a mesma arma, isso tudo faz a gente se dar conta que algumas coisas nunca mudam e se perguntar: precisa mudar? O filme nos faz refletir sobre nós mesmos e tudo o que passamos nas últimas três décadas.
Axel Foley agora com 61 anos, continua sendo o mesmo policial obstinado que usa métodos nada convencionais para resolver seus casos, mas agora também lida com problemas pessoais, como a relação com sua filha. Essa modernização do personagem é bem-vinda, pois nos dá uma nova perspectiva sobre Axel que nunca tínhamos vislumbrado.
No final das contas, "Um Tira da Pesada 4" é uma comédia de ação que nos deixa com um sorriso no rosto, lembrando-nos da "Sessão da Tarde", é um filme que nos faz sentir na segurança de décadas onde a vida tinha outro sabor, onde a gente não tem porque se preocupar, pois sabemos que Axel Foley vai resolver a parada, mas não sem antes debochar de todos ao seu redor e quem sabe, sair por ai pendurado em uma corrente ao lado de fora de um caminhão, destruir a cidade inteira como efeito colateral, para prender contrabandistas de cigarros.
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